quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O que é antropologia?

            Antropologia significa literalmente a verdade do homem (antropo+logos), ou seja, o estudo do homem. Esta definição encerra em si própria múltiplos significados.

            No essencial podemos entendê-la como o verdadeiro sentido de entender, a procura e pesquisa do ser autêntico do homem. Impulsionada pelos Gregos e Renascentistas, épocas em que o homem se propôs ao conhecimento do mundo, ou mais profundamente da Natureza, como desprezar o conhecimento de si próprio?

            A antropologia conteve ao longo da sua história e contém em si mesma o incomodo do indivíduo que pergunta a si mesmo, qual a razão de ser do homem? É uma razão que lhe é comum com a razão de outros seres vivos? Qual a verdade do homem ou para ele possível? O que é o homem?

 
                                             Os campos da antropologia

            A antropologia como ciência, subdivide-se em duas vertentes essenciais: a antropologia Social ou Cultural e a antropologia Física ou Biológica.

 Antropologia Social

            A antropologia social ou cultural tem como objeto de descrição e comparação, uma ou várias sociedades humanas, num determinado momento, tendo em conta os seus aspectos fundamentais.

            Engloba a componente sociocultural de uma sociedade, que tem como principal atenção as relações interpessoais e grupais; por outras palavras e de modo simplista, preocupa-se com a manifestação das relações sociais dos diferentes graus numa comunidade humana.

Antropologia Social


            A antropologia cultural dedica-se primordialmente ao desenvolvimento das sociedades humanas no mundo. Estuda os comportamentos dos grupos humanos, as origens da religião, os costumes e convenções sociais, o desenvolvimento técnico e os relacionamentos familiares.

            Um campo muito importante da antropologia cultural é a lingüística, que estuda a história e a estrutura da linguagem. A lingüística é especialmente valorizada porque os antropólogos se apóiam nela para observar os sistemas de comunicação e apreender a visão do mundo das pessoas. Através desta ciência também é possível coletar histórias orais do grupo estudado. História oral é constituída na sociedade a partir da poesia, das canções, dos mitos, provérbios e lendas populares.

Antropologia Biológica


            A antropologia Física ou Biológica que, como o nome indica, se interessa pela componente física e animal do homem, teve início com observações antropométricas e antropomórficas, quer de esqueletos fossilizados trazidos à superfície pela arqueologia, quer de indivíduos vivos.

            A antropologia biológica é geralmente classificada como uma ciência natural. Como o nome já indica, dedica-se aos aspectos biológicos dos seres humanos. Busca conhecer as diferenças ditas raciais e étnicas, a origem e a evolução da humanidade. Os antropólogos desta área de conhecimento estudam fósseis e observam o comportamento de outros primatas.

Atualmente....


            Atualmente, e devido a contribuições de ambas as vertentes da antropologia, o sentido de raça como uma distinção entre seres humanos tem-se vindo a tornar cada vez menos sólida, contrariamente à idéia que admite a diferença entre seres iguais do ponto de vista biológico, com base em fatores extrínsecos (ambiente natural, ambiente social, cultura, religião...).

            O homem é, antropológica e biologicamente, acima de tudo um animal, e como tal está submetido a princípios e leis às quais estão também submetidas todas as outras populações animais; sociedades humanas e sociedades animais (chamemo-lhes “infra-humanas”, tendo como referência sociedades complexas no reino vivo, sem de nenhum modo aplicar um valor apreciativo) têm muito em comum, tanto na forma como na função. Fenômenos como a proteção contra formas predatórias, integração na vida da comunidade dos que nasceram na sociedade, estratificação da comunidade em grupos etários e outros, são característicos das várias sociedades animais (incluindo as humanas) existentes na planeta.

Etnografia, Etnologia e a Antropologia


            Uma tentativa de universalização do significado dos termos pode ser encontrada na obra do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss em sua Antropologia Estrutural. Sua proposta é a seguinte:


  • A etnografia :
                        A etnografia - corresponde aos primeiros estágios da pesquisa: observação e descrição, trabalho de campo (field-work). Uma monografia, que tem por objeto um grupo suficientemente restrito para que o autor tenha podido reunir a maior parte de sua informação graças a uma experiência pessoal, constitui o próprio tipo do estudo etnográfico.

  • A etnologia :
                        A etnologia - representa um primeiro passo em direção à síntese. Sem excluir a observação direta, ela tende para conclusões suficientemente extensas para que seja difícil funda-las exclusivamente nem conhecimento de primeira mão. Esta síntese pode operar-se em três direções:

a)       geográfica, quando se quer integrar conhecimentos relativos a grupos vizinhos;

b)        histórica, quando se visa reconstituir o passado de uma ou várias populações;

c)       sistemática, enfim, quando se isola, para lhe dar uma atenção particular, determinado tipo de técnica, de costume ou de instituição. A etnologia compreende a etnografia como seu passo preliminar, e constitui seu prolongamento.


            Lévi-Strauss escreve: etnografia e etnologia não constituem três disciplinas diferentes, ou três concepções diferentes dos mesmos estudos. São, de fato, duas etapas ou dois momentos de uma mesma pesquisa, e a preferência por este ou aquele destes termos exprime somente uma atenção predominante voltada para um tipo de pesquisa, que não poderia nunca ser exclusivo do outro.

            Pelo fato da antropologia explorar amplo conjunto de disciplinas, investigando diversos aspectos em todas as sociedades humanas, ela deve apoiar-se nas pesquisas feitas por estas outras disciplinas para poder formular suas conclusões. Dentre as disciplinas mais afins encontramos a História, Geografia, Geologia, Biologia, Anatomia, Genética, Economia, Psicologia e Sociologia, juntamente com as disciplinas altamente especializadas como a lingüística e a arqueologia, anteriormente mencionadas.

A CULTURA


            Afinal, o homem não passa de um entre muitos animais sociais! O que é que o diferencia dos outros? O homem é o único animal que possui cultura.

            Pode-se afirmar que os fenômenos culturais humanos são da mesma natureza que os fenômenos fisiológicos dos outros animais, mas enquanto que os últimos são respostas de algum modo imediatas, a cultura é o produto da experiência acumulada em toda a história evolutiva do homem; só o homem tem o poder de, desenvolver e ensinar um comportamento apreendido através da palavra e ser reflexo de atividades de gerações anteriores suas. O homem é o único ser capaz de receber, produzir e transmitir cultura.
Afinal, o que é cultura ?

            Seria ilusório tentarmos aqui esgotar o conceito de cultura, uma vez que, apenas no Dicionário de Ciências Sociais[1], temos 16 diferentes conceitos para cultura, além de indicações para pesquisa nos verbetes civilização, sociedade e estrutura social.

Para a Antropologia ...


            ...a cultura é o instrumento de domínio das forças naturais, que pode ser compreendido através do estabelecimento de regras, de uma estrutura básica que permitiria fixarmos certas relações de causa e efeito entre significados e ações e em função das quais pode-se participar de várias situações como em partidas de um jogo.

Para a sociologia...


            Uma importante linha da Sociologia propõe que a cultura antecede o indivíduo, que, por sua vez, é parte de uma rede estabelecida pelas relações grupais. Mas para que essa cultura sobreviva às novas gerações, ela precisa ser legitimada através de seus mitos e heróis.

Para a Psicanálise...


            A Psicanálise  também afirma que o sujeito faz parte de uma rede que o antecede e que forma a sua estrutura e a determina, pelo menos até um certo ponto. Isso porque, para essa disciplina, há algo no sujeito que resiste à cultura, que não se submete, não se sujeita: há algo que permanece sempre de fora da cultura, permitindo a singularidade e a diferença entre os sujeitos.

            Entretanto, o que faz com que o sujeito seja singular em relação aos demais, é também aquilo que produz nele o mal-estar nas suas relações, podendo acabar por produzir um alto nível de sofrimento psíquico. Por outro lado, é este o motor da fonte da criatividade e da criação: apenas quando há insatisfação, quando se deseja algo que não se tem ou é, equando há diferenças que há a possibilidade de mudança.

            Haveria então duas direções para a cultura: uma na esteira da educação moral, da convivência social, das regras e uma outra, com valores mais particulares, onde a criatividade e a singularidade tem lugar.

            Para resumirmos, poderíamos então afirmar que toda vez que se busca inferir a cultura de um determinado grupo ou comunidade, será preciso investigá-la a partir de diferentes níveis:

            No nível dos artefatos visíveis: móveis, arquitetura, vestuário;

            No nível dos valores que governam os comportamentos: idealizações, racionalizações, leis, limites, mitos, etc. , bem como percebem o que lhe é diferente.

            No nível dos valores inconscientes – pressupostos que direcionam o pensamento de seu membros, como estes se percebem e sentem, qual sua capacidade de independência e criatividade.